NÃO BASTA TER REPULSA! É PRECISO ORGANIZAR O ÓDIO!





Luiz Gama dizia que “o escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa”. A frase do advogado abolicionista não se referia apenas ao direito de defesa, mas ao direito de ação e de sublevação do escravizado sobre aquele que o fazia propriedade. Sendo violento, o escravizado descoisifica-se, transformando-se em sujeito histórico pleno. Daí o apego de liberais-conservadores sobre o suposto passado harmonioso do escravagismo. Defender a harmonia e a Democracia Racial do escravagismo consiste em defender a mesma sociabilidade para o presente.


Após o fim da escravidão, a classe dominante, a qual é extremamente preocupada com a pureza racial de sua composição familiar, mesmo que hipocritamente brade a miscigenação da população brasileira (produto de estupros dos mesmos), impôs um conjunto de medidas segregacionistas, como proibição de religiões de matriz africana, prisão para quem não tivesse trabalho (negros substituídos por europeus brancos) e para capoeiras, negação de matrícula escolar, eugenismo fascista estatal, imigração financiada e reformas agrárias estaduais para imigrantes brancos.


Desde então, o negro luta para a inserção no mundo do trabalho, pois foi secundarizado, como política de Estado, uma vez que o objetivo era embranquecer a população por meio do desaparecimento físico do negro. Não, o problema não foi a inexistência de “políticas de inclusão”; o ponto central é que houve políticas de limpeza racial, garantindo que a reprodução social de determinados segmentos sociais ocorresse de forma tranquila, sem grandes concorrências, como ocorre hoje. O fato é que essa inserção não é possível da forma como normalmente a concebemos, embebidos pela ideologia liberal de que o esforço é matéria suficiente para o sucesso. Os capitais econômico, social e simbólico são monopólios de uma classe média tradicional formada no ciclo do café e no seu surto de industrialização correspondente, controlados por uma burguesia que procurou ao máximo desaparecer com os negros.


Com o fracasso dessa política ao longo de 80 anos, a classe dominante e a classe média tradicional partiram para o simples e puro controle militar, cuja consequência é o genocídio – mas isso pouco importa. Aproveitou-se da importação da Guerra contra as Drogas, criando os seus grupos paramilitares de direita e reorientando a polícia na Ditadura Civil-Militar e o seu judiciário na Nova República.


Não há saídas na institucionalidade, a despeito do entendimento de parte significativa do movimento negro. Comprovadamente, a ascensão escolar apenas criou uma semi-classe média negra, basicamente de consumo. A questão é: nunca se matou tantos negros e nunca a desigualdade de renda entra as raças foi tão grande. Não há saída na institucionalidade. A institucionalidade apenas muda se se sentir ameaçada. Fora isso, apesar dos discursos e cabelos, a institucionalidade matará mais, seja por bala, seja por fome.


Por isso, defendo que já chegou a hora de responder o ódio com ódio, a violência com violência. Não caíam nesse discurso franciscano dessa classe média empoderada de que é preciso dar a outra face. Não cabe a esse playboy dizer como os negros devem responder, assim como não cabe ao negro procurar responder as expectativas liberais de seu amiguinho da classe média branca.


É preciso que formemos uma milícia de trabalhadores, com hegemonia dos trabalhadores negros, para responder a altura. Quem responde ao seu opressor, responde em legítima defesa. Quem mata antes de ser morto – e muito provavelmente será morto, como a realidade comprova –,mata sempre em legítima defesa.


A polícia nos mata, os seguranças nos matam, o judiciário nos mata, a televisão nos mata, tudo para que a classe média tradicional e a burguesia fiquem tranquilas em seus condomínios e shoppings. Não adianta esperar a bondade e a “solidariedade”. Esperemos o que nos entregam. A morte! É hora de os movimentos negros radicalizarem, ensejar esforços para que todos os negros sejam treinados. Esqueçam os cursos de boneca, dança, poesia, etc. Nesse momento, precisamos nos preparar militarmente, como a polícia está fazendo com os seus grupos paramilitares, as igrejas neopentecostais com os seus “guardiães” e a direita com os seus clubes de tiro. Mirem-se no exemplo de Luiz Gama e Carlos Mariguela. Nunca eles foram tão atuais! É preciso organizar o ódio!

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